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09 março, 2017

Microclima

Microclima do bairro

O sol e céu alaranjados, nuvens cinzentas e o Morro da Pedreira, paisagem vista do alto do Cachambi, em 2016 ( Foto: Marcos Veiga).
Fazendo parte do bioma Mata Atlântica, o Jardim Sulacap tem clima tropical atlântico, tendo ao seu redor as serras do Engenho Velho e Valqueire, com os Morros Caixa D'Água (318 metros), Valqueire (311 m), Cachambi (268 m) e Pedreira (259 m). 
A média de chuvas anuais dos últimos 30 anos é de 645 mm por ano. Os ventos norte fracos e secos são predominantes e tem céu parcialmente nublado durante a maior parte do ano.

Clima do campo aliado ao conforto da cidade
Vista do alto do Cachambi, 2016 ( M. Veiga).
O clima agradável sempre foi elemento de orgulho para os sulacapenses. Os mais antigos contam que os médicos recomendavam o bairro como parte do tratamento de saúde, porque o lugar guardava clima de cidade de interior.
Porém, hoje, o bairro está sendo incentivado a crescer e o equilíbrio entre desenvolvimento urbano, crescimento econômico e combate à mudança climática é desafio para os sulacapenses.

Os limites
O Diagrama de Conforto Humano, desenvolvido pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM), considera como termicamente confortável para o ser humano os valores de umidade variando entre 30% e 80%, dentro da faixa de 8°C e 33°C. 
Diagrama de conforto humano. Fonte: Qualidade Online’s
Sendo que entre 8-20 °C é preciso ambiente ensolarado e entre 26-33 °C é preciso vento para obter sensação térmica confortável no inverno e no verão.

Cobertura arbórea
O Jardim Sulacap se destaca pelos seus espaços verdes (como as praças e cinturão verde formado pelos morros), o que contribui para regular a temperatura, com menos retenção de calor, evidenciando a diferença entre outros bairros da cidade.

Mapa mostra cobertura de 66%. Fonte: Floresta Urbana.

Temperaturas e precipitações
O gráfico mostra médias climatológicas, que são valores calculados a partir de um série de dados de 30 anos observados do Jardim Sulacap.

Diagrama temperaturas e das precipitações do Jardim Sulacap. Fonte: Meteoblue.
A temperatura máxima diária média do bairro (linha vermelha contínua) varia entre 25 °C a 32 °C. A temperatura mínima (linha azul), entre 17 °C  e 23 °C. 
Os meses invernísticos junho, julho e agosto são os mais secos. Janeiro, com 87 mm, e dezembro, com 85 mm, são os meses mais chuvosos. A diferença entre a precipitação do mês mais chuvoso e o mais seco é de 64 milímetros. Os dias mais quentes dos últimos 30 anos variaram entre 31 a 37 °C. As noites mais frias variaram entre 13 °C a 21 °C.

Céu
Segundo dados das condições do céu, o Jardim Sulacap tem predomínio de céu parcialmente nublado durante a maior parte do ano.

Diagrama céu. Fonte: Meteoblue.
O número mensal de 154,9 dias de céu parcialmente nublado supera os 112,9 dias de céu ensolarado, com diferença de 42 dias.

Radiação solar
A radiação solar do bairro pode ser bem aproveitada. Os telhados do bairro têm, segundo estudo de mapeamento, potencial "muito bom" para fornecer energia solar (Mapa Solar do Rio de Janeiro).

Fonte: Prefeitura. Mapa Solar do Rio de Janeiro.



Temperaturas máximas
O diagrama da temperatura máxima para Jardim Sulacap mostra quantos dias por mês atingem determinadas temperaturas.
Diagrama de temperatura máxima do Jardim Sulacap. Fonte: Meteoblue.
Os meses de janeiro, fevereiro e março são os que têm maior quantidade de dias mais quentes. Do total, 14,5 dias do mês de janeiro ultrapassaram a temperatura de 30 °C; fevereiro, 15,3 dias; e março, 13,6 dias.  Os meses de julho e agosto são os dois meses que apresentaram maior quantidade de dias mais frios.


Ilhas de calor
Ilha de calor. Mapa de temperatura, agosto de 2016. Fonte: Prefeitura.


Um ponto de ilha de calor (um oásis inverso) fica próximo ao Carrefour.  
Ilha de calor. Mapa de temperatura, janeiro de 2015. Fonte: Prefeitura.

Precipitação
O diagrama da precipitação para Jardim Sulacap mostra em quantos dias por mês, determinadas quantidades de precipitação são atingidas.
Diagrama quantidade de precipitação. Fonte: Meteoblue.
Revela que no bairro os dias secos são predominantes durante a maior parte do ano e os meses invernísticos junho, julho e agosto se destacam. Na região, os meses de maior precipitação (chuva) são os meses de novembro a março.

Velocidade do vento
O diagrama para Jardim Sulacap mostra quantos dias dentro de um mês podem ser esperados para atingir determinadas velocidades do vento.
Diagrama velocidade do vento. Fonte: Meteoblue.
Brisas leves (entre 6 a 11 Km/h) e brisas fracas (12 a 19 Km/h) passa com mais frequência no Jardim Sulacap. O predomínio é de brisas leves de janeiro a julho. Nos meses de setembro, outubro e novembro, podemos esperar mais brisas fracas do que leves e moderadas.

Direção e intensidade do vento
A Rosa dos Ventos para Jardim Sulacap mostra quantas horas por ano o vento sopra na direção indicada e a que velocidade.
Diagrama do comportamento dos ventos. Fonte: Meteoblue.
O vento de 6 a 11 Km/h sopra predominantemente na direção norte, com 974 horas por ano. O vento sopra na direção nor-noroeste (NNO ou NNW) 630 horas/ano a uma velocidade de de 6 a 11 Km/h. Na direção sul, a brisa leve sopra 362 horas/ano. Já o vento sudoeste sopra 293 h/ano e a brisa sul, 362 horas por ano.



Ciclo das águas
O comportamento das águas dos rios, arroios, córregos realiza grande influência no clima. Os rios, por menor que sejam, são importantes na distribuição de calor, além de absorverem carbono.
Hidrografia do Jardim Sulacap. Fonte: Fernando Patrício/Floresta Urbana.

Mudançãs climáticas  
As mudanças do clima são as alterações climáticas de todo o planeta, é uma realidade e as evidências fazem parte do nosso dia-a-dia, com ameaças à infraestrutura e risco em relação à disponibilidade de alimentos. Os impactos já estão acontecendo.  

O elemento humano na mudança do clima
O clima pode ser qualificado ou modificado em consequência das ações, práticas e atividades humanas. 
Triste é diante de nossos olhos observar ações e omissões humanas que contribuem para intensificar ou agravar o clima do Jardim Sulacap, contribuindo para deixar áreas mais vulneráveis e frágeis.

Queimadas, desmatamento e lixo

Quando acontece um incêndio florestal, lixo é descartado a céu aberto e uma área é desmatada, esse carbono é liberado para a atmosfera, contribuindo para o efeito estufa e o aquecimento.

Exploração de minérios
Fonte: G1.
Além da degradação da paisagem, a mineração causa remoção da floresta, reduz o poder do lugar de capturar carbono e, com isso, muda o clima.

Infraestrutura urbana e transporte
Grande concentração de concreto, asfalto, gases de efeito estufa, ventos fracos, supressão de vegetação causa ilha de calor. Os veículos são responsáveis por 21% do total das emissões na cidade. 
Fonte: autor.

A Cidade do Rio de Janeiro será a mais afetada por mudanças do clima na América Latina, segundo especialistas. Jardim Sulacap não está imune, envolto numa redoma invisível
Fonte: SOS Sulacap.
Segundo especialistas da Rede de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Urbanas, a temperatura média da cidade do Rio de Janeiro subirá 1 °C até 2020 (O DIA,14/10/15). De fato, o Jardim Sulacap não está imune, envolto numa redoma invisível. 

Que impactos podemos esperar?
A mudança climática agrava os vários desafios que já enfrentamos. Ou seja, se já alagava, vai alagar mais anida e gerar estragos na vida de muitos sulacapenses.
Fonte: SOS Sulacap.

Mudanças climáticas e a saúde
Os efeitos adversos da mudança climática vão afetar diretamente a saúde dos moradores. Os mais vulneráveis aos efeitos climáticos são os idosos, as crianças, cardíacos e quem tem problemas respiratórios, porque têm menos capacidade de adaptação e defesa. Em 2010, o grupo de idosos e crianças era 27,62% da população de 13.062 sulacapenses.
O principal perigo é a disseminação de doenças respiratórias, cardiovasculares, gastrointestinais e outras infecciosas como dengue e leptospirose. A conclusão é do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), que está à frente do primeiro núcleo latino-americano da rede internacional, junto com a Coppe da UFRJ.
Os meses de seca (junho a agosto) aumentarão o risco de incêndios florestais e, com isso, afetará sobretudo as pessoas mais sensíveis. Em 2013, a qualidade do ar em relação às partículas suspensas no ar (fuligem, poeira) foi regular no Jardim Sulacap. Condição do ar regular significa que crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardíacas podem ser as mais afetadas.


Mudanças climáticas e os ecossistemas
Os incêndios e os desflorestamento, bem como a ampliação dos dias de seca podem agravar ainda mais as condições ambientais das áreas com alta sensibilidade a riscos geológicos no bairro.
Áreas de risco de deslizamentos. Fonte: Portal Geo Rio.
A mudança climática pode contribuir para fuga de animais do Parque da Pedra Branca em busca de água e áreas habitáveis – o que acaba afetando as pessoas.

Mudanças climáticas e a infraestrutura urbana
As mudanças climáticas (chuvas fortes e secas duradouras) impactará a nossa precária infraestrutura de drenagem das águas da chuva.

Fonte: SOS Sulacap.
Mudanças climáticas e a economia
A mudança do clima afetará a economia. Com os dias quentes, gastaremos mais recursos (energia, água) para se refrescar, aumentando o custo de vida. Além dos gastos com móveis, eletrodomésticos e remédios, inundações desvalorizam os imóveis e a dificuldade de vendê-los aumenta. 
Mudanças climáticas e a disponibilidade de alimentos
As alterações do clima ameaça o abastecimento de alimentos, pois os alimentos vindos de fora do bairro ficam mais caros quando afetados por tempestades, inundações, mudanças dos padrões sazonais, entre outros eventos que resultam em escassez e aumento de preços. Com isso, os mais pobres (5,67% dos sulacapenses, cf. IBGE de 2010) serão os mais afetados, porque grande parte da renda é para compra de alimentos.


Diante de uma ameaça real à saúde, ao bem-estar e o modo de vida da população, a melhor opção é prevenir.
Todos serão atingidos pelas mudanças do clima, querendo ou não, ainda que esperneando e gritando. Por isso, o esforço de todos Nós para combater os efeitos negativos das mudanças do clima deve ser prioridade.

Respostas às mudanças do microclima
Todos nós somos responsáveis pelo microclima. Há diversas ações que podemos fazer para combater os efeitos da mudança do clima sobre nossas cabeças e sobre os sistemas naturais. 
Os sulacapenses terão que ir além do protetor solar como solução dos efeitos do clima. É preciso que todos façam parte da solução comunitária para evitar o aumento da temperatura.
  • Os sulacapenses podem colaborar, deixando de por a culpa só no governo, nos políticos presos na operação Lava Jato, ou na associação de moradores AMISUL - identificar as causas (naturais ou humanas) do problema climático e buscar soluções em conjunto sem perder tempo, garantindo integração e coerência entre as estratégias, protegendo pessoas e ecossistemas mais vulneráveis;
  • Recuperar urgentemente as nascentes;
  • Reflorestar as calçadas e os morros com plantas nativas adequadas, obedecendo a legislação; 
  • Reaproveitar resíduos de podas (folhas, galhos, cascas, serrapilha) para as ações de plantio. A conservação do solo é uma resposta para mudança do microclima; 
  • Realizar e/ou apoiar campanhas informativas, de sensibilização e conscientização de governo, empresas e população para que adotem práticas e políticas de baixo carbono no bairro;
  • Transmitir conhecimento e experiência que permitam as pessoas agirem de forma racional face ao clima;
  • Fiscalização contínua para verificar o uso adequado das terras e identificar desobediência à legislação;
  • Reformar a ciclovia da Av. Alberico Diniz e incentivar o uso da bicicleta.


Agricultura urbana sustentável é aliada na redução de problemas climáticos
Ao recuperar e promover o uso dos ecossistemas (solo, biodiversidade, clima, floresta, paisagem) de terrenos vazios, a agricultura urbana sustentável é uma das respostas para efeitos das mudanças climáticas, capaz de atender a uma demanda prioritária dos sulacapenses e da população mundial por serviços ecossistêmicos, incluindo os mais vulneráveis. 
Consta no plano diretor (artigos 165 e 176 da Lei nº 111/11). Além de alternativa para usar áreas vazias ou subutilizadas, a agricultura local ajuda reduzir a vulnerabilidade às perturbações climáticas e de abastecimento de alimentos.

Ação da JSBS contra a mudança do clima
Entre outras ações:
  • Realizamos campanhas de esclarecimento, sensibilização e conscientização sobre a questão da mudança climática;
  • Pesquisa, produz e divulga às pessoas conhecimentos que lhes permitam agir de forma racional frente aos riscos ambientais e de saúde associados às mudanças climáticas;
  • Desenvolve respostas para tentar reduzir às alterações climáticas com foco nas pessoas e nos ecossistemas mais vulneráveis;
  • Defende e promove a agricultura sustentável e o uso de resíduos florestais como solução de baixo carbono para combater os efeitos das mudanças climáticas, buscando garantir ao mesmo tempo a conservação da floresta, a segurança climática e alimentar no bairro;
Sacos com folhas coletadas dos quintais para cobrir solo, 2019.
    • Solicita e apoia o plantio massivo de árvores como grande aliada;
    Reflorestamento Buriti Alegre, 2019.
    • Estimula a integração da gestão comunitária, governo municipal, moradores, instituição de ensino, empresas e ongs, em planos, projetos, programas e ações relacionadas à mudança do clima;
    • Incentiva o uso de bicicleta como meio de transporte saudável e capaz de ajudar a reduzir as emissões de carbono. 


    Referências
    BRASIL. Lei nº 12.187, de 29 de dezembro de 2009. Institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima - PNMC e dá outras providências.



    BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Plano Nacional de Adaptação à mudança climática. Volume I: estratégia geral. Grupo Executivo do Comitê Interministerial de Mudança do Clima – GEx-CIM Ministério do Meio Ambiente. Brasília, 2015. Disponível em:http://hotsite.mma.gov.br/consultapublicapna/wp-content/uploads/sites/15/2015/08/PNA-Volume-1-05.10.15-Vers%C3%A3o-consulta-p%C3%BAblica.pdf





    INMET – Instituto Nacional de Meteorologia. Climatologia. Disponível em:  http://www.inmet.gov.br/html/clima.php
    Meteoblue. Clima Jardim Sulacap.
    Disponível em: https://www.meteoblue.com/pt/tempo/previsao/climatecomparison/jardim-sulacap_brasil_3474715
    NERY, Jonas Teixeira e SOUZA, Débora Moreira de. O Conforto térmico na perspectiva da Climatologia Geográfica.
    O DIA. Rio será a cidade mais afetada por mudanças climáticas na América do Sul. Disponível em: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-10-14/rio-sera-a-cidade-mais-afetada-por-mudancas-climaticas-na-america-do-sul.html

    RIO DE JANEIRO (Cidade). Mapa de temperatura. Disponível em: http://pcrj.maps.arcgis.com/apps/MapJournal/index.html?appid=5d9b36b0c4054369b39eb7bf6c2159d7
    RIO DE JANEIRO (Cidade). Lei n.º 5.248 de 27 de janeiro de 2011. Institui a Política Municipal sobre Mudança do Clima e Desenvolvimento Sustentável, dispõe sobre o estabelecimento de metas de redução de emissões antrópicas de gases de efeito estufa para o Município do Rio de Janeiro.
    RIO DE JANEIRO (Cidade). Lei complementar nº 111, de 1 de fevereiro de 2011. Dispõem sobre a política urbana e ambiental do Município, institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano Sustentável do Município do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/139339/DLFE-229591.pdf/LeiComplementar1112011PlanoDiretor.pdf
    RIO DE JANEIRO (Cidade). Defesa Civil. Rio de Janeiro em busca da resiliência frente chuvas fortes. Disponível em: http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4402327/4109121/RIODEJANEIRORESILIENTE_2013.pdf

    RUAF (Resource Centre on Urban Agriculture & Forostry) – Centro de Recursos para a Agricultura e Silvicultura Urbanas. A agricultura urbana como estratégia de redução de riscos e desastres diante das mudanças climáticas. Revista de Agricultura Urbana, nº 27, março de 2014. Disponível em: http://www.ruaf.org/sites/default/files/rau27.pdf.

    Não esperamos que simplesmente tenham gostado deste trabalho, ESPERAMOS QUE AJAM!

    Por um clima mais agradável para todos.