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1800 - Os lugares das sedes das fazendas, o primeiro transporte coletivo e as tecnologias sustentáveis na Fazenda dos Afonsos

Em 1810, é iniciada a construção da Estrada entre Rio-São Paulo. O percurso iniciava na Estrada Real de Santa Cruz e foi macadamizada (uma sólida fundação de pedras socadas), com traçado levemente inclinado e valas laterais para escoar as águas da chuva. Os militares da Real Academia de Artilharia, Fortificação e Desenho eram responsáveis por planejar e dirigir as obras. Contavam com ajuda de feitores que recrutavam os operários.

Em 1821, João Marcos Vieira de Sousa Pereira, o herdeiro da Fazenda dos Afonsos, move ação contra Lúcio Manoel de Proença por ter usurpado parte terreno de seu falecido pai: “ali levantado barraca de vender comida e bebidas e construir casa com cerca”. 
Depois de dar o grito lá nas margens do Rio Ipiranga em agosto de 1822, D. Pedro I também retornou de São Paulo por esse caminho. Por isso, a estrada ficou conhecida também por Caminho da Independência.
A casa sede dos Afonsos já esteve instalada no lado esquerdo do Caminho Real. Ao norte, fazia fronteira com a Fazenda Sapopemba; ao sul, com Taquara; ao oeste, fazia fronteira com Piraquara. Também esteve instalada próximo ao cruzamento do Largo do Campinho. 


Mapa indicando, entre outras fazendas, a sede da Fazenda dos Afonsos à margem esquerda do Caminho Real de Santa Cruz. Fonte: Fridman (1999)/ Pedroza (2008).
Como bem registrou a escritora e desenhista Maria Graham em agosto de 1823, a casa sede da Fazenda dos Afonsos e outras construções ficavam do lado direito da Estrada Real, próximo aos Morros dos Afonsos, onde hoje fica a Invernada dos Afonsos (CFAP e a Escola de Oficiais da PM) e onde passa a via Transolímpica.

Desenho da Fazenda dos Afonsos, Maria Graham (1823).
Nessa época, o primeiro transporte coletivo (diligência) circulava pela Estrada Real. As diligências faziam a linha Centro (Largo de São Francisco) - Santa Cruz e transportavam pessoas para o (fútil) ritual aristocrático do beija-mão que D. João VI tanto adorava (Fonte: Império do Brazil).

Na paisagem dos Afonsos, segundo Maria Graham, além dos canaviais e criação de gados, havia vendas e lojas dos "foreiros brancos" que ficavam à beira das estradas. Carros de bois, tropas de mulas, pessoas montado à cavalo e a pé, o trânsito era intenso na Estrada Real

A paisagem era muito bonita. Os limites da fazenda começavam em Campinho, onde havia um pouso de telhas, se estendia até cerca de uma légua em direção a Piraquara; ou seja, até o divisor de água do Morro da Pedreira, onde fica hoje o Carrefour. 


Na Fazenda dos Afonsos, a gestão eficiente da propriedade rural familiar adotava manejo sustentável, o que significa explorar a floresta com menor impacto possível. Segundo relato de Maria Graham, a maior parte da floresta estava preservada: "Só uma pequena porção da fazenda, porém, é realmente cultivada. O resto está ainda coberto com a floresta primitiva". A Fazenda dos Afonsos conciliava produção, a subsistência com preservação da floresta, buscando não comprometer os recursos naturais. 

Tecnologia de combinação de culturas

O manejo agrícola incluía a adoção de técnicas de combinação de culturas:
A cana caiena ocupava “terrenos baixos” e a cana crioula ocupava “o morro”. 
“As canas de açúcar são plantadas aqui durante os meses de março, abril, maio, e mesmo junho e julho. Nas filas entre elas plantam-se pés de milho e de feijão, cujo cultivo é favorável à cana de açúcar". 



Colheita e capina seletiva
"O feijão é colhido primeiro, quando o solo é mondado, limpo e afrouxado em torno das raízes das canas; em seguida é arrancado o milho, fazendo-se nova mondação e limpeza. Só depois disso o açúcar está bastante alto para ensombrar o terreno e evitar o nascimento de ervas más".

Aproveitamento de resíduos da cana
No processo de produção de cachaça, o bagaço da cana e o vinhoto (garapa) eram aproveitados:
"Nada se desperdiça numa casa de açúcar". O bagaço de cana seco era usado como combustível para aquecimento das fornalhas. A água doce refugada que saia do alambique servia para alimentar os bois.

Esse conjunto de práticas é usado hoje em dia para quem deseja ter uma fazenda sustentável.


A comida da Fazenda dos Afonsos
No café da manhã, foi servido à Maria Graham café, pães de várias espécies e manteiga.
No almoço, a visitante saboreou caldo (parecido com papa de aveia), farinha umedecida, farinha seca, pão, cozido com linguiça e carneiro macio da propriedade. Foram usados baixela inglesa azul e branca, toalhas e guardanapos de algodão lavrado, utensílios de prata e travessa.
Na ceia, queijo assado, rodelas de bolo, torradas untadas com pouca manteiga irlandesa.


Pesquisa científica
Nessa época, o famoso médico e botânico Francisco Freire Alemão, morador do Mendanha e amigo de João Marcos (herdeiro da fazenda), andava colhendo amostras de plantas pelas "matas dos Afonsos", como fez em 1850 para seu trabalho científico que foi publicado na revista Archivos da Palestra Scientifica em 1858. Em 1867, vindo da cidade para o Mendanha, Freire Alemão colheu um ramo de uma planta (sapotácea) à beira da Estrada Real.

Anos de 1910: mobilização social contra Gripe espanhola em 1918 na Fazenda dos Afonsos.
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