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1557 - Jardim Sulacap, antiga terra da Aldeia Sapopemba

Território de quem deixou um legado de amor à Terra diante da ganância dos de fora

Antes das casas, ruas e praças, onde hoje está assentado o Jardim Sulacap, existia a antiga Aldeia Sapopemba (do tupi sau'pema, espécie de árvore de raízes angulosas que agem de forma solidária como suporte que dão estabilidade aos troncos). Não era terra nullis, terra de ninguém. Era território tupinambá.

Fonte: IHGBI – Inst. Histórico e Geográfico da Baixada de Irajá. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/IHGBI-431683443669577/?hc_location=ufi Acesso: 20/10/18.

O Rio de Janeiro, nos anos de 1500, era formado pelas aldeias Pavó-una, Iraiá (Irajá) ao norte, Eyramirî, Itanã, Sapopemba e Takûarusutyba (Taquara) ao sul, entre outras.

Os franceses desenvolveram boas relações com os índios tupinambás. Isso está claro na obra "História de uma viagem feita à Terra do Brasil" do francês Jean de Léry que esteve no Rio em 1557 inserido no projeto França Antártica. Chegou em 04/03/1557 à Ilha de Villegagnom e três semanas depois Léry saiu batendo pernas pelas aldeias localizadas no interior da Guanabara. Entre outras coisas, a obra destaca a vida dos antigos moradores.

Um ancião nativo questionou e argumentou o modelo de exploração da floresta. 
Um ancião tupinambá perguntou a Jean de Léry por que os portugueses e franceses vieram de tão longe buscar lenha para se aquecer? "Não tendes madeira em vossa terra?”
Léry respondeu que tinha, mas não daquela qualidade e não queimavam, extraiam tintas.
E logo replicou o ancião: _ e por acaso precisa de muito?
Léry: "sim”, “pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias" "e um só deles compra todo o pau-brasil" dos muitos navios que "voltam carregados”.
ancião perguntou logo: mas esse homem tão rico de que me falas não morre?
Léry: "morre como os outros”.

A terra gera o suficiente para nutrir todas as necessidades, mas a avareza dos europeus ameaçava as necessidades essenciais dos nativos e suas gerações.
O ancião: “_ agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem!”
“_ Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados”.

O velho tupinambá fez Léry sentir-se envergonhado com o que os europeus avarentos faziam e reconheceu que os nativos cuidavam da terra
“Os tupinambás, como já disse, odeiam mortalmente os avarentos prouvera a Deus que estes fossem todos lançados entre os selvagens para serem atormentados como por demônios, já que só cuidam de sugar o sangue e a substância alheia. Era necessário que eu fizesse esta digressão, com vergonha nossa, a fim de justificar os selvagens pouco cuidadosos nas coisas deste mundo”.

Compromisso com a lógica da vida
Os nativos atribuíam, desde muito tempo, “maior importância à natureza e à fertilidade da terra do que nós ao poder e à providência divina”, segundo Léry, para quem os nativos insurgiam “contra os piratas que se diziam cristãos”, que abundavam na Europa e escasseavam os recursos da terra dos nativos.

A ganância pelo lucro não orientava os antigos moradores. Não queriam deixar o bem viver, o esforço constante. Viver era continuar a tomar banho de rio, andar por trilhas, tocar nas árvores e sentir a sua energia, respirar o ar puro, comer frutas do pé, beber água pura.

Os antigos moradores amaram essa Terra mais do que poder, dinheiro, privilégio ou espelhinho. Viveram e a respeitaram, sentiram o afeto da Mãe, cuidaram dela e lutaram também.

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